quarta-feira, 11 de agosto de 2010






Cientistas descobrem em floresta dos Estados Unidos um fungo gigantesco que ocupa área equivalente a 47 estádios do Maracanã



Bia Barbosa



Fotos AP

O FUNGO
O Armillaria ostoyae lembra um emaranhado de galhosv pequenos e delgados, que formam uma rede sob a terra

A COMIDA
Os filamentos se alimentam das árvores e no outono brotam do chão na forma de cogumelos amarelados O TAMANHO
O Armillaria pode atingir proporções colossais, como o encontrado em Oregon (área do fungo: 890 hectares), no noroeste dos Estados Unidos, que ocupa uma área superior à Enseada de Botafogo, no Rio
Quando se pensa num ser vivo imenso, daqueles que podem ser comparados a ônibus ou prédios, a primeira imagem que vem à cabeça é a dos extintos dinossauros, com até 50 metros de comprimento. Na semana passada, pesquisadores do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos mostraram que a natureza consegue ser bem mais bizarra e produzir um organismo de dimensões ciclópicas, daquelas que escapam a nosso senso de escalas. Eles encontraram um fungo gigante, uma enorme rede de filamentos enraizada a cerca de 1 metro da superfície, abrangendo uma área superior a 890 hectares. O megafungo da espécie Armillaria ostoyae, típico de regiões temperadas na América do Norte e na Europa, enterrado sob a Floresta Nacional de Malheur, é tão grande que só pode ser dimensionado quando confrontado com cidades inteiras ou construções multiplicadas às dezenas. Nessa escala equivaleria a toda a enseada da Praia de Botafogo, seus arredores e o morro do Pão de Açúcar, ou a 47 estádios do Maracanã colocados lado a lado. Os cientistas ainda não calcularam quanto pesa toda essa estrutura viva. O fungo é um parasita bastante longevo, que busca alimento alojando-se nas raízes das plantas. Às vezes, dá sorte e encontra repasto suficiente para continuar a crescer por milhares de anos, como ocorreu na floresta americana.

Os fungos constituem um reino à parte entre os seres vivos. Podem ser microscópicos, dotados de uma única célula, como as leveduras, usadas na fabricação de fermento e cerveja, ou complexos, como o exemplar Armillaria recém-descoberto. Antes dele, em 1992, uma estrutura semelhante com 600 hectares havia sido localizada no Estado de Washington. Julgava-se ser uma raridade que se desenvolveu em condições muito especiais, por um período estimado entre 400 e 1.000 anos. Desde a semana passada, passou-se a considerar que esses gigantes são muito mais comuns do que se imaginava. O ser da Floresta de Malheur esteve pelo menos 2.400 anos parasitando sucessivamente milhares de árvores de forma simultânea. "Fungos como esse são extremamente versáteis", diz Marina Capelari, pesquisadora da seção de micologia do Instituto de Botânica, em São Paulo. "Eles exploram o meio ambiente e crescem indefinidamente." Mesmo que alguns pedaços do organismo morram, isso não compromete o resto da estrutura, que continua viva e em expansão. Acima da superfície o Armillaria ostoyae tem um aspecto bastante diferente. No outono, ele brota em forma de grupos de grandes cogumelos dourados, que podem atingir até 30 centímetros de diâmetro. A cor amarelada deu à espécie o apelido de cogumelo-mel. Por enquanto, os cientistas ainda não sabem se a espécie é comestível, porque, numa das poucas tentativas feitas, o pesquisador que experimentou o cogumelo sofreu uma violenta reação gástrica, mas sobreviveu. Ainda se está por determinar se isso ocorreu devido a algum tipo de veneno ou por erro na preparação do prato. Segundo a pesquisadora Catherine Parks, da equipe que localizou o megafungo, os cogumelos são apenas a ponta de um iceberg, insuficientes para dimensionar o que existe por baixo da terra e o impacto que o organismo causa na floresta. Para descobrir que estavam lidando com um único ser, os técnicos mapearam toda a região na qual suspeitavam haver trechos do fungo e analisaram amostras de vários pontos. Pelos resultados, viram que os filamentos possuíam a mesma composição molecular e só podiam ter uma mesma origem.

O processo alimentar do Armillaria é igualmente peculiar. O fungo secreta enzimas capazes de quebrar os componentes químicos da madeira em moléculas menores e, depois, sorve o que lhe interessa. Todo o alimento é extraído das árvores, primeiro das raízes e depois do caule. O roubo de nutrientes é tão intenso que a árvore morre. Ao atingir o caule, o megafungo se manifesta sob nova forma, agora uma cobertura esbranquiçada e viscosa, parecida com uma camada de cola. Árvores de grande porte podem sobreviver por muitos anos ao ataque do fungo, mas perdem vigor e têm o crescimento bastante afetado. Um observador atento consegue identificar uma árvore atacada por esse pesadelo subterrâneo: as raízes enfraquecem, as folhas descolorem e caem, a madeira está sempre umedecida. Nem por isso o megafungo é um vilão. Os cientistas o consideram um elo essencial no ecossistema das florestas. A ele cabe o papel de lixeiro, limpando áreas para que novas árvores possam nascer. Mesmo assim, é um consolo saber que um ser desses jamais conseguiria sobreviver numa cidade.



A invasão das formigas minúsculas

Elas são minúsculas, medem cerca de 2 milímetros de comprimento, mas são protagonistas de uma façanha inédita nos anais da zoologia: a construção de um formigueiro gigantesco, provavelmente o maior do mundo, com mais de 965 quilômetros de extensão, no Estado americano da Califórnia. As responsáveis pela obra são as infatigáveis formigas do açúcar – aquelas miudinhas, comuns nas cozinhas brasileiras. –, que chegaram aos Estados Unidos no século XIX, a bordo de navios cargueiros provenientes da Argentina. O tamanho do formigueiro, que se estende por uma área deserta entre a cidade de San Diego e os arredores de San Francisco, foi estabelecido por pesquisadores da Universidade da Califórnia, intrigados com o comportamento atípico da espécie. Em seu habitat, na América do Sul, formigas da mesma espécie mas de colônias diferentes lutam ferozmente entre si em busca de comida e espaço. Elas identificam como inimigas todas aquelas que não possuem o odor típico de seu próprio formigueiro. Na supercolônia da Califórnia, a diversidade genética é tão pequena que as formigas se organizam em uma verdadeira frente familiar. Isso decorre do fato de serem todas descendentes de um grupo de imigrantes muito reduzido. Em vez de defender territórios distintos, as formigas se comportam como se estivessem em uma única colônia. Utilizando a mesma técnica empregada nos exames de DNA, os cientistas concluíram que a formiga na Califórnia tem metade da diversidade genética de sua parente argentina. O resultado é impressionante: elas conseguem comida mais depressa e estão vencendo a guerra com as formigas nativas, algumas dez vezes maiores que elas.

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