domingo, 15 de agosto de 2010

Vivendo, aprendendo... e formando sinapses







Ao longo da vida aprendemos diversas tarefas motoras, desde o simples levar a mão à boca ao mais complexo como dirigir. Com tantas tarefas a serem aprendidas, o cérebro precisa contar com uma de suas mais interessantes características: a plasticidade, que é a capacidade do cérebro de se adaptar a mudanças, sem a qual ele estaria fadado às funções com as quais ele nasce, e nada mais. Aprender, afinal, requer modificar o cérebro.

Mas o que exatamente acontece no cérebro durante o aprendizado? Pesquisadores dos Estados Unidos testaram o aprendizado motor em camundongos e constataram que ele leva a uma rápida formação de novas sinapses no cérebro de camundongos adolescentes e até adultos. O estudo foi publicado em novembro de 2009 na Nature.

Tonghui Xu e colegas, da Universidade da Califórnia em Santa Cruz, estudaram camundongos de 1 mês de idade – considerados adolescentes – e outros de mais de 4 meses de idade, já adultos. Os animais eram colocados em gaiolas onde aprendiam a alcançar sementes através de uma fenda. Menos de uma hora depois do aprendizado, já havia um número significativo de novas conexões formadas entre neurônios do córtex motor do lado do cérebro responsável pelos movimentos, mas não do outro lado, que não havia sido usado na tarefa. As novas conexões formadas, chamadas de espinhas dendríticas, conectam neurônios de diversas camadas do cérebro.

Fazendo a mesma tarefa, camundongos jovens ganharam mais conexões novas do que os adultos, sobretudo quando haviam aprendido melhor a tarefa, em comparação aos que falharam mais vezes no teste de alcançar as sementes.

Ao mesmo tempo em que o aprendizado leva à formação de novas sinapses, outras são perdidas: o resultado do aprendizado não é um aumento no número total de sinapses, mas uma mudança no conjunto de sinapses existentes. Em cerca de duas semanas, o número total de sinapses já está de volta aos níveis anteriores ao aprendizado – embora as sinapses agora sejam outras. Sinapses que já eram estáveis, que podem ser a base da memória motora duradoura, aparentemente não são perturbadas pelo aprendizado – o que ótimo: assim você não vai esquecer como andar de bicicleta se começar a fazer aulas de surfe.

A constatação da modificação rápida do cérebro com o aprendizado é interessante para pacientes que sofreram AVCs ou outras lesões: através da formação de novas sinapses, a prática com a fisioterapia pode ajudá-los a se recuperar mais rapidamente e quem sabe recobrar as funções perdidas, voltando a ter uma vida normal.

Xu e sua equipe mostram que o remodelamento estrutural das sinapses acontece quase imediatamente, ao contrário da hipótese anterior de que a formação de sinapses novas levaria dias para acontecer. Aprender, portanto, é mudar o cérebro – e na mesma hora. (SAC, 02/03/2010)



Fonte: Xu T, Yu X, Perlik AJ, Tobin WF, Zweig JA, Tennant K, Jones T, Zuo Y (2009) Rapid formation and selective stabilization of synapses for enduring motor memories, Nature 462, 915-9.




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