terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Estudos mostram "tradições" culturais do macaco-prego CLAUDIO ANGELO Editor de Ciência da Folha de S.Paulo

CLAUDIO ANGELO
Editor de Ciência da Folha de S.Paulo

A italiana Elisabetta Visalberghi, 54, se lembra bem da primeira vez em que viu um macaco-prego usando ferramentas para quebrar frutos secos. Foi há 27 anos, no zoológico de Roma. "Eu sabia que eles eram especiais quando os vi pela primeira vez", conta.

Visalberghi passou as duas décadas seguintes tentando convencer seus pares de que o uso de ferramentas pelos macaquinhos sul-americanos era intencional, não mera coincidência nem um desvio de personalidade resultante das condições de cativeiro.

Tiago Falótico
Macaco-prego (Cebus libidinosus) se prepara para golpear coquinho com pedra em Gilbués
Macaco-prego (Cebus libidinosus) se prepara para golpear coquinho com pedra em Gilbués
A hipótese soava absurda, pois esse tipo de comportamento parecia ser exclusividade de seres humanos e seus parentes mais próximos, como os chimpanzés. Nos 30 milhões de anos de evolução que separam as linhagens do macaco-prego (Cebus libidinosus) e dos grandes macacos africanos (incluindo nossa espécie), nenhum outro macaco jamais foi visto usando ferramentas.

A vingança veio a cavalo. Em um estudo que será publicado na próxima edição do periódico científico "American Journal of Physical Anthropology", a pesquisadora italiana e colegas do Brasil e dos EUA demonstram que não só o uso de ferramentas é comum entre macacos-pregos selvagens como esses animais têm "tradições culturais" distintas.

E mais: os bichos são capazes de transportar as pedras que usam como "martelo" por vários metros até as rochas e troncos usados como "bigorna". O desgaste pelo uso acaba produzindo traços típicos nas pedras, criando locais na mata próprios para a atividade de quebrar coquinhos.

As observações foram feitas em um bando de macacos que habita uma fazenda em Gilbués, zona de transição entre cerrado e caatinga, no Piauí, apenas três anos depois de o uso de ferramentas entre macacos selvagens ter sido observado pela primeira vez.

"Isso contrasta com o que foi relatado para vários grupos de macacos-pregos selvagens na América do Sul", diz a italiana.
Durante anos, observações de macacos na mata atlântica e na Amazônia simplesmente falharam em detectar um padrão de uso de ferramentas. E não foi por falta de coquinhos, abundantes na floresta.

"Até alguns anos atrás as pessoas ainda se perguntavam se o macaco-prego realmente fazia isso. É porque não foram perguntar a ninguém no interior do Brasil", brinca o etólogo (especialista em comportamento animal) Eduardo Ottoni, da USP, co-autor do estudo.

Ottoni e seus alunos já observaram macacos usando ferramentas em outros lugares do Piauí. Em Goiás, encontraram o que eles chamam de "sítios de quebra", os locais onde os bichos se juntam para se banquetearem com coquinhos, jatobás e outros frutos de casca dura.

Kit complexo

Em um outro estudo, cujos resultados ainda não têm previsão de publicação, Massimo Mannu, aluno de Ottoni, observou que um bando de macacos-pregos da Serra da Capivara, também no Piauí, têm um "kit de ferramentas" diversificado.

Além de martelos e bigornas, os animais foram vistos usando varetas --para desentocar lagartos-- e pedras para escavar tubérculos. Uso combinado de ferramentas é raro até mesmo em chimpanzés, considerados os "gênios" do reino animal.

Ottoni está começando a preparar um estudo dos sítios para estabelecer a primeira "etnografia" dos miquinhos. Uma coisa parece certa: há algo no ambiente das savanas que estimula os animais a modificá-lo intencionalmente, usando instrumentos para ter acesso a alimentos indisponíveis a outros bichos. Mas, se escassez de comida não é a resposta, o que é?

O pesquisador paulista e sua colega italiana apostam na terrestrialidade. Na caatinga e no cerrado, os macacos passam mais tempo no chão do que na floresta. "No chão há coquinhos e pedras", resume Ottoni.

Repeteco evolutivo

A hipótese é interessante porque há um outro animal que (acredita-se) evoluiu na savana e também passou a usar ferramentas: o Homo sapiens.
"Esta história lembra a dos australopitecinos [ancestrais humanos]", diz Ottoni. "Quando eles começam a usar ferramentas, liberam as mãos, andam eretos e aumentam o consumo de carne, vital para o desenvolvimento do cérebro."

É claro, ninguém entenda com isso que os macacos-pregos estão na rota evolutiva para originar uma espécie inteligente. Mas, segundo Ottoni, talvez eles possam servir de modelo vivo. "Há tantas analogias nessa história que o paleoantropólogo, em vez de olhar para um fenômeno único, que aconteceu há 6 milhões de anos, pode olhar para outras coisas."

Duas espécies podem virar uma só no RS

Duas espécies podem virar uma só no RS

Roedores antes separados por rios voltaram a cruzar, gerando híbridos; resultado pode ser extinção, diz biólogo


Reinaldo José Lopes escreve para a “Folha de SP”:

Quem fizer um passeio atento pelas dunas do litoral gaúcho, de preferência com os olhos voltados para o chão, pode ter a chance de dar uma espiada no drama da evolução em tempo real.

Os atores não têm muita presença de palco, mas até que são carismáticos: três espécies de roedores, duas das quais aparentemente estão se fundindo bem nas barbas dos pesquisadores.

Os bichos, conhecidos popularmente como tuco-tucos, estão mais para versões tupiniquins das marmotas, vivendo em galerias subterrâneas que eles mesmos cavam e comendo raízes e folhas de gramíneas.

O biólogo Thales Renato de Freitas, do Departamento de Genética da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), estuda as populações de tuco-tucos desde o começo dos anos 1990 e descobriu que essa estranha promiscuidade entre espécies pode, na verdade, levar a uma extinção no futuro. Aparentemente, por culpa do homem.

Segundo Freitas, foi a ação humana que derrubou as barreiras que existiam entre os roedores, permitindo que eles voltassem a procriar entre si depois de ficarem separados por muitas gerações.

Acredita-se que esse tipo de isolamento seja um dos motores do surgimento de espécies.

A primeira indicação de que havia algo esquisito acontecendo entre as populações do gênero Ctenomys, ao qual pertencem os três tuco-tucos do litoral sulino (C. flamarioni, C. lami e C. minutus), veio quando o biólogo da UFRGS se pôs a contar o número de cromossomos dos bichos.

Mamíferos como tuco-tucos e seres humanos costumam ter um número definido de pares dessas estruturas enoveladas (são pares porque um vem do pai e o outro, da mãe), e os cromossomos encerram o DNA, com toda a informação genética da espécie.

Mas, quando o pesquisador fez a conta para o C. minutus, topou com algo incomum: o número variava.

"Tínhamos tanto 48 quanto 46 cromossomos, e também o número intermediário, 47", conta ele.

Aparentemente, o que acontece é que duas populações do bicho estavam começando o processo de isolamento que costuma gerar uma nova espécie, desenvolvendo números diferentes de cromossomos.

"Mas elas estão em cima de uma região muito dinâmica, perto da lagoa dos Patos, onde havia várias barras em direção ao mar que não existem mais", diz Freitas.

Segundo ele, o processo de mudança geográfica que criou essa zona de hibridação, como é chamada, foi natural.

Arroz da discórdia

O mesmo não acontece, porém, com o outro caso estudado pelo biólogo da UFRGS e seus colegas.

Em condições normais, os tuco-tucos do litoral Sul ocupam territórios bem-definidos.

O C. flamarioni é literalmente um rato de praia, ocupando as dunas de frente para o mar; o C. minutus domina os campos arenosos logo atrás; e o C. lami também se estabelece nesses campos, só que mais para o interior. Tudo muito organizado, se não aparecessem vários arrozais no meio do caminho.

Explica-se: antes, a região era entremeada por rios e banhados que separavam as populações.

"Você pega mapas do Exército dos anos 1950 e o banhado está lá. Nos anos 1970, ele já não existe mais", conta Freitas. Isso porque a água foi desviada para as plantações de arroz que surgiram nas redondezas, afirma o biólogo.

Na lama

Nessa brincadeira, quem se deu mal foi o C. lami, o tuco-tuco de distribuição mais restrita e, ironicamente, o que parece ser o "pai" da espécie C. minutus, segundo indica a diversidade genética do bicho.

A falta de barreiras fez com que o C. minutus cruzasse com ele, produzindo híbridos que são férteis, pelo menos até a terceira geração. A espécie "pura" tem 56 cromossomos, enquanto os "mestiços" possuem 51.

E há mais um motivo para preocupação: o C. minutus parece ter muita facilidade para ocupar os ambientes do outro tuco-tuco.

"Isso é ruim. O processo de especiação [formação de novas espécies], que pelo visto ainda estava ocorrendo, pode ser interrompido", avalia Freitas.

Uma das maneiras de reverter o processo seria recriar barreiras entre os animais. Os pesquisadores pretendem continuar monitorando a diversidade genética dos roedores em detalhe para ver como a situação se desenrola.
(Folha de SP, 4/1)


Anterior
Exploração em áreas de preservação ambiental permanente deve ter novas regras em fevereiro
Próxima
China registra ‘baby boom’ de pandas em 2005
Índice de Noticías
- imprimir
- enviar
- comentário

Expediente • Contato • S

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Pesquisadores descobrem que chá verde pode ajudar na perda de peso

Dona Berenice Sardo, de 82 anos, mal acorda e já prepara uma jarra de chá e toma um pouco três vezes por dia. Ela foi voluntária de uma pesquisa.

Geriatras, biólogos e nutricionistas se uniram para estudar os efeitos do chá verde na saúde dos idosos. Todos com risco de doenças cardiovasculares. As 45 pessoas foram pesadas, medidas e também passaram por exames de pressão, colesterol, triglicerídeos e glicose.

“O chá é conhecido pelas propriedades antioxidantes e vários estudos já demonstraram que ele tem efeito benéfico. Diminui risco de doenças cardiovasculares”, afirma a nutricionista Ana Elisa Senger.

Os voluntários foram divididos em dois grupos e apenas um consumiu o chá verde. Foram três xícaras por dia, uma hora antes ou depois das refeições. Os resultados surpreenderam.
Edição do dia 21/01/2012

21/01/2012 16h11 - Atualizado em 21/01/2012 17h43
Pesquisadores descobrem que chá verde pode ajudar na perda de peso
Mesmo sem fazer dieta, pesquisa mostrou que o consumo do chá pode ajudar a eliminar os quilinhos a mais e evitar doenças cardiovasculares.

Shirlei Paravisi

Dona Berenice Sardo, de 82 anos, mal acorda e já prepara uma jarra de chá e toma um pouco três vezes por dia. Ela foi voluntária de uma pesquisa.

Geriatras, biólogos e nutricionistas se uniram para estudar os efeitos do chá verde na saúde dos idosos. Todos com risco de doenças cardiovasculares. As 45 pessoas foram pesadas, medidas e também passaram por exames de pressão, colesterol, triglicerídeos e glicose.

“O chá é conhecido pelas propriedades antioxidantes e vários estudos já demonstraram que ele tem efeito benéfico. Diminui risco de doenças cardiovasculares”, afirma a nutricionista Ana Elisa Senger.

Os voluntários foram divididos em dois grupos e apenas um consumiu o chá verde. Foram três xícaras por dia, uma hora antes ou depois das refeições. Os resultados surpreenderam.

Acompanhe o Jornal Hoje também pelo twitter e pelo facebook.

Quem tomou o chá verde, mesmo sem atividade física e dieta equilibrada, perdeu quase três centímetros de cintura e ainda se livrou de uns quilinhos extras. “E essa diminuição representa diminuição no risco de doenças cardiovasculares”, lembra a nutricionista.

Uma voluntária emagreceu três quilos em dois meses de tratamento. E até os exames clínicos melhoraram. Com tantos benefícios, Dona Berenice não pensa em abandonar o chazinho. “Como eu pretendo viver até os 100 anos, não vou deixar mesmo de tomar muito chá”, diz a voluntária.

Mas atenção: segundo os pesquisadores, só devem ser consumidas três xícaras de chá verde por dia. O consumo exagerado pode provocar doenças no fígado. E uma dica importante na hora de preparar o chá verde é desligar a água antes do ponto de fervura e deixar o chá em infusão por cinco minutos. Ele pode ser tomado quente ou frio.